Crítica - Homem-Aranha: De Volta ao Lar
- Igor Oliveira
- 17 de jul. de 2017
- 5 min de leitura

Homem-Aranha: De Volta ao Lar está nos cinemas brasileiros desde o último dia 06, e enfim podemos ver o cabeça de teia em um filme solo que é parte do chamado Marvel Cinematic Universe, mesmo que em uma coprodução da Marvel Studios com a Sony Pictures. Enquanto episódio para a inserção do personagem no MCU o filme até cumpre bem seu papel, apesar de estar um tanto longe da essência do Aranha nas HQs. Vou logo adiantando que eu não sou desses puristas que não topa nenhum tipo de adaptação a não ser as fidelíssimas, mas tem muita coisa que me incomodou no filme, e a seguir eu vou contar pra vocês.
SPOILER ALERT! SPOILER ALERT! SPOILER ALERT!
Não dava pra fazer esta reflexão aqui sem spoiler, infelizmente. Os detalhes são bem decisivos pra crítica que eu tenho em relação ao filme, então recomendo, para quem não assistiu, que volte aqui depois de ir ao cinema.
A trama
Logo após a Batalha de Nova Iorque (primeiro filme Vingadores, lembra?), uma empresa de coleta de destroços é contratada para limpar a cidade. Logo no início do filme, no entanto, seu proprietário Adrian Toomes (Michael Keaton) é surpreendido pelo cancelamento do contrato por parte da prefeitura. Quem assumiria o trabalho a partir dali seria um Depto. de Controle de Danos do FBI, que na verdade está associado a Tony Stark. Como o lixo espalhado pela cidade é muito mais que mero entulho (é tecnologia alienígena dos chitauri), Stark mexe rapidamente os pauzinhos pra que essa tecnologia fique restrita e não caia em mãos erradas. Toomes, que já percebera o quão valioso era o material, fica puto da vida com a situação e resolve mexer seus pauzinhos também.
Então o filme dá um salto 8 anos pra frente. Toomes está roubando o material chitauri do galpão do FBI e fabricando armas para vender a criminosos da cidade, e é aí que entra o amigão da vizinhança. O Aranha tinha feito sua estreia no MCU em Capitão América: Guerra Civil, quando Tony Stark o recrutou para seu time no combate contra o time do Capitão América. O personagem debutou bem, com a pegada de Homem Aranha que estamos acostumados a ver nas HQs, e depois voltou pra Nova Iorque, e é esse o momento presente do filme: Peter Parker conta à Tia May e seus amigos que está fazendo um estágio na Stark Enterprises, enquanto espera novas instruções de Happy Hogan (Jon Favreau), o assistente de Stark responsável por cuidar do garoto.
O desdobramento é bem óbvio e não há do que reclamar. Enquanto exercita seus poderes tentando impedir crimes na cidade, Parker descobre as armas com tecnologia alienígena e o homem por trás do plano. Sem a sanção de Stark, o Homem Aranha tenta impedir os planos de Toomes, o que desperta seu ódio e gera um acidente de consequências bem graves, não fosse a interferência do Homem de Ferro. Mas se essa trama anda direitinho, onde é que está o problema?
Um Aranha bacana, um Peter Parker nem tanto

Embora todas as cenas de ação envolvendo o Aranha sejam muito boas, me incomodou o desenvolvimento do Peter Parker no filme. Longe de ser culpa de Tom Holland, que está muito bem no papel, essa necessidade de conectar o personagem no MCU acabou sendo uma forçada de barra. Não achei que o lance do Stark padrinho do Aranha ia ser tão ruim, mas um Peter Parker que simplesmente espera novas ordens de Stark não tem nada a ver com o personagem que a gente conhece.
Abriram totalmente mão da essência do personagem, que é justamente a ideia de que o Aranha vai se moldando e amadurecendo a partir das perdas e conflitos do Parker (morte do tio, morte da namorada, etc.). Há quem defenda que é porque a referência é muito mais o universo Ultimate do que o Aranha clássico, mas cês vão me desculpar: nesse aspecto os filmes do Sam Raimi retratam o personagem muito melhor, apesar de um montão de gente torcer o nariz pra atuação do Tobey Maguire.
Outra coisa em termos de essência de personagem: o Aranha é a antítese do Homem de Ferro, se a gente refletir só um pouquinho. Um é um milionário que pode fazer o que quer com a grana que tem; o outro se vira como pode e não tem grana nem pra pagar o aluguel. Tudo bem, vocês vão dizer que esse Aranha é bem o do começo, mas dá no mesmo: o conflito entre ser o Homem Aranha e as dificuldades da vida do moleque comum não existem no filme, o que é uma pena porque é justamente isso o que faz do herói um dos mais populares de todos os tempos. O fato de ser gente como a gente.
Mas pra vocês não falarem que eu tô só metendo o pau, o Adrian Toomes/Abutre do Michael Keaton é ótimo, não só nos momentos de ação, mas nas situações em que ele confronta Parker olho no olho. Aliás, a virada do segundo para o terceiro ato do filme é sensacional, um dos grandes momentos de Keaton e Holland. Inclusive esse terceiro ato tem muita coisa boa. A luta entre o Aranha e o Abutre é uma lindeza, e a cena do Aranha saindo dos destroços em que ficou soterrado, e é uma referência à clássica HQ Amazing Spider-Man 33, enche de alegria o coração de qualquer fã do personagem.

Pelo em ovo: o descompasso cronológico no MCU
Tem bastante gente incomodada com uma confusão cronológica que Homem-Aranha: De Volta ao Lar acabou causando no MCU. Como a Batalha de Nova Iorque aconteceu em 2012 e o novo filme inicia logo após o final da batalha, há um descompasso de tempo, já que logo depois da sequência inicial somos levados para “8 anos depois”, o que nos coloca no ano de 2020. Há, no entanto, dentro do próprio filme, evidências de que estaríamos num tempo presente no ano de 2017.
Ca entre nós: achei isso aí o de menos. Por que tanta gente está mais preocupada com isso do que com um bom filme que se sustente em si mesmo? É fato que o MCU é muito redondinho e coerente, mas os tropeços na essência do personagem não são muito mais graves? Pra mim são. Um filme enquanto unidade narrativa precisa funcionar completamente independente de fazer ou não parte de um universo. Essa “falha cronológica” é o menor dos problemas de Homem-Aranha: De Volta ao Lar.
Missão cumprida para o MCU, mas ainda falta
Certamente, como eu disse lá no início do texto, tudo ok com o filme em relação à inserção definitiva do Homem Aranha no MCU. Não precisaram ficar contando origem do personagem, e agora ele pode aparecer em tudo quanto é filme da Marvel sem necessidade de mais explicação. Mas a sensação que fica é a de que ainda está faltando um puta filmão do personagem, e aí eu acho que tem que voltar alguns elementos essenciais: o Clarim e seus coadjuvantes (ignorados nos últimos 3 longas), o sentido de aranha, a pindaíba pra pagar o aluguel, o Parker fotógrafo.
Como o rapaz acabou, no final do filme, recusando a oferta de Tony Stark de ficar nos Vingadores e voltou pra Nova Iorque, há esperança. No mais, bora ficar com a lembrança dos bons momentos do terceiro ato do filme e com a imagem do Aranha balançando pelos prédios da Big Apple ao som dos Ramones.
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