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O Universo Cinematográfico Marvel e a Narrativa Transmídia


Ontem estive no evento de lançamento de Guardiões da Galáxia v.2 em blu-ray e DVD, na Livraria Cultura do Shopping Market Place, em São Paulo. As atividades foram comandadas pelo Clube do Vigias, fã clube novíssimo que é dedicado principalmente (mas não só) ao tal Universo Cinematográfico Marvel (MCU). Além de dissecarem os conteúdos das edições do filme em DVD e blu-ray, o grupo apresentou a origem dos Guardiões nas HQs, easter eggs e referências dos quadrinhos na tela, e um preview de especulações sobre Thor: Ragnarok, próximo filme do MCU que estreia por aqui em 26/10.


Quiz e sorteios também fizeram parte da programação, bem como um divertido concurso de dança em que os participantes tiveram que imitar o baby Groot ao som de ‘Mr. Blue Sky’, do Electric Light Orchestra, pagando aquele mico de leve. Os Vigias me convidaram para fazer uma apresentação do que seria esse universo cinematográfico e como ele é um exemplo bem sucedido de narrativa transmídia, termo tão em voga ultimamente no mundo do entretenimento. Para quem não foi (ou quem foi e quer relembrar), conto aqui hoje um pouco do que falei no evento.

Narrativa Transmídia

Quem primeiro classificou o que conhecemos hoje como narrativa transmídia foi o professor Henry Jenkins, do Instituto de Tecnologia de Massachussets (MIT). Como professor de Ciências Humanas, Jenkins fundou e dirigiu o programa de Estudos de Mídia Comparada da instituição, e tomando como objeto de estudo a trilogia cinematográfica Matrix e obras derivadas em outras mídias, dedicou um capítulo inteiro do seu livro Cultura da Convergência (Ed. Aleph) às características dessa narrativa. Matrix é pioneira por ter sido uma das primeiras iniciativas planejadas de narrativa transmídia, mas sofreu com a falta de antecedentes e acaba sendo um exemplo não tão bem sucedido.


Pra sintetizar bem o que Jenkins define como transmídia e suas características fundamentais, retomo aqui o slide que usei na apresentação do evento de ontem:

Considerando todos esses aspectos, é fato que o Universo Cinematográfico da Marvel é uma narrativa transmídia, e das mais bem sucedidas. O projeto que começou com o primeiro filme do Homem de Ferro (2008), quando a Disney nem tinha adquirido a Marvel ainda, está em sua terceira fase, é a base introdutória para outras histórias complementares em livros, quadrinhos, games e até atrações de parques temáticos, e funciona principlamente pela carcterística especificada pelo professor na última citação do slide: “Cada acesso à franquia deve ser autônomo, para que não seja necessário ver o filme para gostar do game, e vice-versa.” (página 138, capítulo 3, Cultura da Convergência, Editora Aleph, segunda edição).

É possível pegar qualquer um dos filmes do MCU e assistir fora da ordem, isoladamente, que o filme vai fazer sentido. É claro que quem assistiu todos (incluindo as já famosas cenas pós créditos) tem uma experiência muito mais completa, mas quem resolve assistir um só, aleatoriamente, não fica perdido. Cada filme do MCU tem história fechada com começo, meio e fim.


Outro ponto importante, e que o autor destaca em Matrix como negativo, é o fato de que todos os acontecimentos fundamentais e de grande impacto naquele determinado universo terem que acontecer sempre na mídia principal, que introduz a história para que as outras mídias desenvolvam complementos. Jenkins lembra que em Matrix, Morpheus morre em um jogo de videogame após os três filmes, e como evidentemente muito mais pessoas no planeta assistem filmes do que jogam videogames, o acontecimento gerou descontentamento dos fãs porque nem todo mundo estava disposto a jogar um videogame para ter acesso a um momento tão importante naquele universo. Narrativa transmídia das boas não força o consumidor a nada, deixa-o escolher quando e como vai explorar o universo que ele tem à sua disposição.

O fato de se poder assistir os filmes na ordem que o espectador preferir também faz com que o MCU seja, ele mesmo fechado só nos filmes (e sem considerar os complementos derivados em outras mídias), uma narrativa transmídia eficiente. Tá aí uma boa notícia tanto pra quem ainda não assistiu todos os filmes do MCU quanto pra quem já o fez e quer assistir de novo, enquanto não chegam os próximos.


Pra quem não esteve no evento, foi um prazer reapresentar o conteúdo aqui no Hipertextos. Não deixem de curtir a fanpage do Clube dos Vigias e fiquem atentos aos próximos eventos do grupo. O trabalho do fã-clube está cada vez melhor.



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