Quadrinhos Nacionais: Dias Estranhos

Toda terça feira é dia de quadrinho nacional aqui no HIPERTEXTOS. Projetos bacanas, boas histórias, e gente criativa que eu venho conhecendo ao longo dos últimos anos, já que resolvi me embrenhar nesse mundo também como criador. Espero que se divirtam o tanto quanto eu tenho me divertido.

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Dias Estranhos - O Pesadelo do Aprendiz

Já que algumas semanas atrás eu reencontrei os criadores de Dias Estranhos, quando estive no Rio de Janeiro por ocasião da Jedicon RJ, resolvi reler a história, de que gosto demais, e começar esta coluna semanal falando do trabalho dos caras. Com uma apresentação muito bem cuidada, arte belíssima e narrativa (visual e textual) maduras, Marcus Leopoldino (roteiro), Diego Porto (arte e capa) e Gabriel Calfa (cores, letras e edição) me impressionaram.

Um prólogo misterioso, somente em texto, é seguido de uma vasta paisagem num cânion ensolarado. A reflexão do personagem que vemos mostra que estamos dentro da cabeça dele, num sonho, e ao virarmos a página o despertador, implacável, mostra que é hora de interromper aquele momento de devaneio. Mais adiante sabemos que o sujeito é o protagonista da história, se chama Jean, e leva uma vida de merda, num trabalho em que não está satisfeito. As pílulas são uma realidade dura, sejam as que ele toma para dormir, por causa da insônia, ou as que ingere pra se manter acordado durante o dia.

O único respiro que o cara tem é a vontade de ver Luana, uma colega de trabalho e amiga de infância que reencontrou na empresa. Jean sincroniza o momento do cafezinho com ela (quem nunca?) e dá ao Diego Porto a oportunidade de materializar duas das páginas mais bonitas da história, com a fumaça do café virando requadro e atravessando as duas páginas, enquanto o protagonista sonha acordado. Porto nem precisava contar, na sua minibiografia ao final do volume, sobre sua admiração pelo pintor checo Alphonse Mucha. Essas duas páginas evidenciam a influência, e o estilo art nouveaulesco (com o perdão do neologismo bizarro) casa perfeitamente com o tema de Dias Estranhos.

Seguimos Jean em seu dia a dia e a situação só piora: mais remédios, menos domínio da rotina de trabalho e mais confusão entre o que é real ou não. Entre as páginas de sonho e realidade em que conhecemos a história do personagem, vemos também dois sujeitos, que não entendemos a princípio se estão em um sonho ou no mundo real da narrativa. Dois homens com pinta de hippies, porém antagônicos, um bem mais sereno e o outro com acessos de fúria. Não vou contar o que acontece com eles depois, porque o negócio aqui é fazer vocês comprarem a HQ e conhecerem o trampo dos caras. Mas vou só adiantar que as aparições deles são pra capa de disco do Grateful Dead nenhuma botar defeito.

A conclusão da história, que é um primeiro volume, caminha ainda mais para o agravamento da condição de Jean e deixa uma baita vontade de ler o próximo capítulo, que já foi financiado com sucesso no Catarse, terá o título de Bruxas Entre Nós, e será lançado na CCXP, em Dezembro. Para viabilizar seus projetos, os três criadores lançaram o selo RISCØ (procurem por @riscohq no Facebook), e a impressão que fica é de que vem mais coisa boa por aí.

Da esq. para a dir.: Leopoldino, Porto e Calfa

Conheci o Marcus Leopoldino num curso de roteiro que fiz na Quanta Academia de Artes, ministrado pelo Felipe Castilho. Quando decidi que também quero ser criador de quadrinhos acabei tendo mais contato com gente boa e criativa, e é disso que eu vou falar nesta coluna toda terça. Vai ter trabalho de mais gente que eu conheci no curso, além de outros artistas e roteiristas. Agora passem lá na página do RISCØ pra conhecer o trabalho do trio e comprem as edições (físicas!!!), pra gente ver uma cena de quadrinhos nacionais cada vez mais forte e criativa. Até terça que vem!