Blue Break Beats: a coletânea de jazz mais legal do planeta
- Igor Oliveira
- 10 de ago. de 2017
- 3 min de leitura
Quem trabalha ou já trabalhou em livraria sabe o quanto é comum clientes procurarem por livros que não existem. O fenômeno é completamente normal já que as pessoas muitas vezes estão pesquisando assuntos num grau de profundidade em que ainda não se escreveu nada. Reza a lenda que um amigo livreiro já atendeu uma pessoa procurando publicações sobre roupas de astronauta para hamsters.
Confesso que logo que comecei a trabalhar na Cultura do Villa Lobos, lá pelos idos de 2001 e do alto dos meus 21 anos, protagonizei experiência parecida. Perguntei ao Aluízio, que comandava o setor de jazz da loja, se por acaso existia alguma coletânea que juntasse as versões originais de músicas que artistas de rap, soul e afins, sampleavam. Ao contrário das roupas de astronautas para hamsters, meu pedido foi atendido e existia sim discos com essas músicas: a coleção Blue Break Beats.
A série tem 4 volumes mas acabei começando pelo último, porque ali estava ‘Bring Down the Birds’, do pianista Herbie Hancock, de onde o Deee Lite tirou a referência para fazer o seu ‘Groove is in the heart’. A coleção reúne gravações da Blue Note, gravadora de jazz fundada em 1939 e que é sinônimo de qualidade no gênero, e a ideia foi mostrar uma seleção de músicas que naquela altura (o primeiro volume é de 1999) já tinham sido sampleadas por vários artistas ou que serviram de influência para o surgimento de gêneros como o rap, o hip hop e o acid jazz, entre outros. O resultado, como eu disse lá no início, é a coletânea de jazz mais legal do mundo.
Blue Break Beats, v.1

No primeiro disco da série possivelmente você vai reconhecer a levada de ‘Sookie Sookie’. A versão é do guitarrista Grant Green e foi usada pelo Us3 na sua ‘Tukka Yoot’s Riddim’, uma das faixas mais bacanas do disco de estreia da banda, também lançado pela Blue Note. ‘Sookie Sookie’ também foi gravada pelo Steppenwolf, mas a versão original é de um cara chamado Don Covay. Entre as minhas preferidas estão ‘Harlem River Drive’, da flautista Bobbi Humphrey, e ‘Grooving with Mr G’, de Richard Groove Holmes, que só pode ter sido a inspiração para a batida que o Arrested Development usou na faixa ‘U’, do seu primeiro disco.
Blue Break Beats, v.2

A faixa que abre o segundo disco é a paulada ‘Street Lady’, do trompetista Donald Byrd. Também tem Bobbi Humphrey de novo, com ‘Jasper Contry Man’ (ouçam essa mulher!). O clima do disco todo, se você fechar os olhos, vai te fazer parecer que está num filme Blaxploitation, no Harlem, em Nova Iorque. Recomendo muito procurarem também o disco completo do Donald Byrd, chamado Street Lady mesmo, e um da Bobbi Humphrey com o título Blacks and Blues.
Blue Break Beats, v.3

No terceiro volume não tem como não reconhecer a flautinha que os Beastie Boys usaram em ‘Sure Shot’. Ela vem de ‘Howlin for Judy’, de Jeremy Steig. Outra das minhas prediletas também está aqui: uma versão de ‘Light My Fire’, dos Doors, pela Shirley Bassey. Curioso é que na versão digital dos discos da coleção, pelo menos as que estão no Spotify, cada volume tem mais faixas e algumas foram suprimidas. No caso do terceiro volume esse ‘Light My Fire’ saiu da versão digital, mas entrou uma versão matadora da Nacy Wilson para ‘Son of a Preacher Man’.
Blue Break Beats, v.4

O último disco da coleção foi o que mais ouvi, por ter sido o primeiro que tive. Além de ‘Bring down the birds’, que eu já mencionei, tem duas versões que vocês tem que ouvir: a primeira é ‘The Beat Goes on’, de Sonny & Cher, com a banda do baterista Buddy Rich e sua filha Cathy nos vocais; a segunda é ‘Whole Lotta Love’, do Led Zeppelin, com Ike & Tina Turner (de chorar!!!).
Como já citei é legal ir atrás da coleção no streaming de sua preferência, já que as versões digitais tem mais faixas. Como no Spotify não está disponível o quarto volume e sei que tem meia dúzia de amigos que ainda gosta de disco físico, lá no All Music tem a lista completa das faixas das edições físicas, que em CD são até baratas, apesar de serem só importadas. Os três primeiros volumes também saíram este ano em vinil, com discos das respectivas cores das capas (lindeza!).
O suporte fica ao gosto do freguês, só não deixem de ouvir essas belezuras. Fui!

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