Quadrinhos Nacionais: V.I.S.H.N.U.
- Igor Oliveira
- 17 de out. de 2017
- 3 min de leitura

Toda terça feira é dia de quadrinho nacional aqui no HIPERTEXTOS. Projetos bacanas, boas histórias, e gente criativa que eu venho conhecendo ao longo dos últimos anos, já que resolvi me embrenhar nesse mundo também como criador. Espero que se divirtam o tanto quanto eu tenho me divertido.
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Li V.I.S.H.N.U. logo que foi lançado, em 2012. Lembrei de trazer o álbum esta semana aqui pra coluna porque o roteirista, que é o Ronaldo Bressane, também traduziu a edição brasileira de Androides Sonham Com Ovelhas Elétricas. Como esses dias, por conta do lançamento de Blade Runner 2049, resolvi dar uma recuperada em todo o material relacionado, reli o livro e acabei lembrando de V.I.S.H.N.U., não só pelo ponto comum que já citei, mas porque é uma das HQs mais sensacionais que já li, e que também tem a mesma carga filosófica do universo criado por Philip K. Dick, traduzido para a telona por Ridley Scott e agora expandido por Denis Villeneuve.
V.I.S.H.N.U. é uma inteligência artificial que surge nos galpões de um gigantesco complexo de estudos científicos localizado na região de Trivandrum, na Índia. No futuro distópico da história, pesquisas com inteligência artificial são completamente controladas e só podem acontecer nesses complexos, já que uma experiência anterior, com uma tecnologia chamada DUDE, causou um colapso em todo o planeta Terra. Combinação de assistente pessoal e gerenciador de tarefas, o DUDE era uma tecnologia profundamente atrelada a sistemas vitais da sociedade. Essa conexão, sem precedentes, era vista como a grande virtude do programa, mas foi no fim das contas a brecha para uma falha irreversível: o DUDE derrubou bancos, transportes, governos e décadas de avanços científicos.
Quando V.I.S.H.N.U. aparece como uma nova possibilidade de IA, o mundo entra em estado de alerta. Na real, era pra informação ser secretíssima, mas a jornalista Oriana Skarlat parece estar sempre à frente dos donos do jogo e escancara a descoberta para o mundo todo, o que intensifica ainda mais os conflitos de extremistas anti-máquinas, liderados pelo misterioso El Mecanógrafo.

Tudo isso acontece em um mundo que te da plena sensação de preexistência verossímil. O roteiro de Bressane desenvolve o argumento criado pelo publicitário Eric Acher, e quem materializa o futuro distópico de V.I.S.H.N.U. diante dos nossos olhos, de forma espetacular, é o artista Fabio Cobiaco. Alternando entre luzes e sombras (o álbum é todo preto & branco) e muitas vezes dando apenas sugestões com traços, em uma narrativa visual ao mesmo tempo límpida e cheia de borrões propositalmente posicionados, Cobiaco cria paisagens impressionantes, pra mostrar um futuro em que a tecnologia está a serviço da humanidade só até a página 2.

Conforme a história prossegue, V.I.S.H.N.U. se revela como o grande porta voz de uma última revolução, definitiva: a revolução da consciência. Os confrontos de interesses entre os personagens, tanto o próprio V.I.S.H.N.U. quanto os demais envolvidos na trama, trazem discussões filosóficas, sociais e políticas densas, e mesmo tendo a narrativa uma proposta de diversas camadas, todas estão interligadas e não tem nada sobrando. Acreditem, é difícil descrever a intensidade e a beleza da história. Só lendo mesmo.
A edição de V.I.S.H.N.U. e do selo Quadrinhos na Cia., da Companhia das Letras, e o formato é outro destaque: com dimensões de altura e largura em 28,8 x 29 cm (pouco menor que um disco de vinil) e papel couché fosco, vai marcar a maior presença quando você presentear aquele amigo fã de hard sci-fi. Sei, também não gosto muito de abusar dessas classificações. Mas V.I.S.H.N.U. é hard sci-fi sim. E dos bons. A seguir um booktrailer, criado na época do lançamento, só pra deixar você com mais vontade de ler.
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