Quadrinhos Nacionais: Dupin
- Igor Oliveira
- 5 de dez. de 2017
- 2 min de leitura

Toda terça feira é dia de quadrinho nacional aqui no HIPERTEXTOS. Projetos bacanas, boas histórias, e gente criativa que eu venho conhecendo ao longo dos últimos anos, já que resolvi me embrenhar nesse mundo também como criador. Espero que se divirtam o tanto quanto eu tenho me divertido.
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A quarta capa da belíssima edição de Dupin, de Leandro Melite, lançada em 2015 pela Zarabatana Books, avisa: “Livre adaptação de Os Assassinatos da Rua Morgue, do escritor norte-americano Edgar Allan Poe, marco fundador da ficção policial.” Bom para quem não associou o nome à pessoa, caso você não se lembre de C. Auguste Dupin, o seminal detetive da literatura. Mas, de qualquer forma, Dupin é bem mais que isso. É novela gráfica das mais belas que já li, pelas composições de páginas, condução de narrativa e cuidado com os personagens.
O detetive, no caso, é o menino português Gustave Chevalier. Após a morte do pai, Chevalier vai viver com a família materna no Brasil, e de cara o contraste entre ele e seu primo Eduard dá o tom da história. Eduard é solitário e cheio de inseguranças, muito por conta da mãe paranoica e que não deixa o menino pensar por si mesmo. Gustave é sombrio e de poucas palavras, e quando resolve falar despeja a verdade nas pessoas de forma estranhamente enigmática.

Durante uma refeição, à mesa estão os dois meninos, a mãe e o padrasto de Eduard, Rufus Gallo. O cara é um investigador de polícia brucutu e exibicionista, e cede fácil à curiosidade dos meninos de saberem sobre um crime que ele está investigando: duas mulheres foram assassinadas num quarto, que em seguida foi trancado por dentro, como no conto de Poe. Gallo leva os meninos para uma visita à cena do crime, onde eles têm a oportunidade de dar início à sua própria investigação.
A condução da investigação leva a um desenvolvimento da relação dos dois meninos, e a revelações cada vez mais estranhas sobre Gustave. Melhor seria até dizer extraordinárias, pra retomar a referência da obra que serviu de inspiração. O percurso dos meninos pra desvendar o mistério inclui tanto um contexto lúdico, de brincadeiras com super-heróis e histórias em quadrinhos, quanto uma situação de bullying das mais bem retratadas que eu já vi. Sensacional a ideia de Melite, de retratar o bullying como rito de passagem.

O desfecho vocês só vão saber lendo mesmo, porque estão cansados de saber que por aqui eu não fico me demorando nos enredos das histórias. Quero estimulá-los a lerem mais quadrinhos, cada vez mais.
Dupin tem pouco mais de 200 páginas e formato luxuoso, de 27,8 x 18,8 com porte de graphic novel mesmo, e todo em preto, branco e cinza. Chamam a atenção o traço propositalmente irregular e profundamente sugestivo dos desenhos de Melite, bem como o uso do preto nos contrastes de luz e sombra. Obra prima visual (e textual) sem exageros.
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