top of page

Quadrinhos Nacionais: La Dansarina

  • Foto do escritor: Igor de Paula Oliveira
    Igor de Paula Oliveira
  • 6 de fev. de 2018
  • 3 min de leitura

Toda terça feira é dia de quadrinho nacional aqui no HIPERTEXTOS. Projetos bacanas, boas histórias, e gente criativa que eu venho conhecendo ao longo dos últimos anos, já que resolvi me embrenhar nesse mundo também como criador. Espero que se divirtam o tanto quanto eu tenho me divertido.

____________________________________________________________

Em setembro de 1918 a Morte aportou em Salvador. Voluptuosa, travestida de dançarina espanhola. Tô sabendo. Só essa descrição já deu uma baita vontade de ler La Dansarina, admitam. Lillo Parra (roteiro) e Jefferson Costa (arte) fizeram um trabalho magnífico, que ganhou o Troféu HQMIX de 2016 em duas categorias: 'Melhor Roteiro' e 'Melhor Edição Especial Nacional'.


Em uma história que retrata como a gripe espanhola assolou o país, mais particularmente São Paulo, nesse início do século XX, conhecemos o menino Petro, filho de imigrantes espanhóis que está doente, mas melhora. Algum tempo depois de sua recuperação, sua mãe, que ficara o tempo todo cuidando dele ao pé da cama, morre. E o pai do menino já tinha morrido um tempo antes.

O menino, profundamente triste, sai pra velar a mãe no quintal da casa em que mora a família, mas a tristeza vai se transformando em indignação conforme passam os dias e os funcionários da prefeitura não vem pra levar o corpo para um enterro adequado.


Petro resolve então solucionar as coisas do seu jeito. Parte em uma jornada para enterrar a mãe na Capela de São Miguel Arcanjo, como ela desejava, e sua história de menino é toda entrecortada pelo momento presente, em que o mesmo Pedro, agora com 104 anos, está muito doente num hospital público de São Paulo.

La Dansarina, além de um baita trabalho de arte sequencial, é uma aula de como dar carga dramática a uma história em quadrinhos. Costa traduz com uma beleza tocante o roteiro de Parra, com uma alternância de paletas de cores muito bem coordenada e figuras humanas que lembram os retratos de pintores cubistas. As páginas 21 e 22, em que o artista retrata o momento em que Petro entende que sua mãe morreu, são das coisas mais bonitas que já vi em HQs. Um exemplo de que trabalhar com ausências e sugestões, em artes visuais, muitas vezes é a melhor opção.


A aventura do menino, cheia de personagens interessantes e percalços perigosos, termina da mesma forma que a do velho, no mesmo lugar. Como sabia que estava perto da morte, Petro pediu ao neto que o acompanhava no hospital que fugisse com ele. O destino? A mesma Capela de São Miguel Arcanjo. O personagem do presente, muito mais experiente e com toda a carga da jornada de menino, caminha para seus últimos momentos pleno de serenidade, enquanto o menino do passado, cheio de resiliência, não desiste do objetivo de enterrar a mãe com dignidade.


Tudo isso posto, e já teríamos uma história lindíssima, que vale cada quadro. Mas La Dansarina também nos dá de presente uma crítica social contundente e uma lição e tanto sobre crenças e a bondade que está (ou não) dentro de cada um de nós, independente de para quem rezemos. É só lembrar da decisão recente do STF sobre ensino religioso nas escolas, que não mudou absolutamente nada pra garantir a pluralidade do ensino, ou ainda da dificuldade que as pessoas estão tendo em São Paulo pra tomar a tal vacina da febre amarela. A diferença é que em 1918 a gripe espanhola pegou o país desprevenido de verdade.


La Dansarina foi lançada em 2015 pelo selo Quadro a Quadro, e reeditada no ano passado pelo selo Marsupial, da Jupati Books, que foi a edição que li. É moleza de encontrar por aí, mas eu recomendo o site da própria editora ou a Ugra Press, deem uma fuçada nesses dois sites.


Semana que vem tem mais, minha gente. Até lá.





Comments


Destaque

© 2017 Hipertextos por Igor Oliveira. Criado com Wix.com

  • Facebook B&W
  • Twitter B&W
  • Google+ B&W
bottom of page