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Quadrinhos Nacionais: Carniça

  • Igor Oliveira
  • 21 de fev. de 2018
  • 3 min de leitura

Toda terça feira é dia de quadrinho nacional aqui no HIPERTEXTOS. Projetos bacanas, boas histórias, e gente criativa que eu venho conhecendo ao longo dos últimos anos, já que resolvi me embrenhar nesse mundo também como criador. Espero que se divirtam o tanto quanto eu tenho me divertido.

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O horror mais interessante e com mais possibilidades passa bem longe dos clichês, como tudo nessa vida. Ano passado, ao organizar o evento Horrorcon, tive a oportunidade de me aproximar mais e conhecer gente muito boa que gera conteúdo e faz muito pelo gênero, seguimento, ou o que você quiser chamar. Já falei sobre o artista Marcel Bartholo aqui, sobre o seu Insubstituível. Em Carniça, ele se juntou ao Rodrigo Ramos (roteiro) pra criar uma história que tira o horror do óbvio, do lugar comum, posicionando o tema na sua essência, sua concepção mais pura.

Um plano geral mostra uma casinha simples de cidade do interior. Nos balões, claramente uma discussão, que nos próximos quadros configura-se em briga de marido e mulher. Mas o conflito vem todo pelos balões, pelo diálogo. Já as imagens são sugestões fortes de que algo ruim se aproxima. Bodes, símbolos apropriados pelo ocultismo e o satanismo, encaram o leitor implacavelmente. E a placa de identificação do local, o ‘Sítio Amor de Mãe’, dá o tom da dureza e da dualidade da vida no sertão brasileiro, de tradições que desumanizam até o último fio de cabelo.

Uma maldição, que em parte é inspirada por ‘causos’ que Ramos ouvia quando criança na casa da família no interior de São Paulo, dá o tom da história que ainda ganha os ares das narrativas de Edgar Allan Poe e do quadro ‘Os Retirantes’, de Candido Portinari. Mas fora as referências que os próprios criadores admitem, também lembrei muito do Zé Ramalho, que pra mim é um cara que retrata bem demais o lance do horror interiorano brasileiro nessa concepção mais dura, real. Os Mistérios da Meia-Noite, que o cara fez pra trilha da novela Roque Santeiro, tem tudo a ver com o lobisomem do Lon Chaney Jr. Do País de Gales a Asa Branca, a aura de mistério tá lá, nos arredores da cidade. Divaguei? Beleza, admito. Mas é pra dizer, no fim das contas, que Carniça se apropria de boas referências pra contar uma história com originalidade e homenagens, tudo na medida.

Das transições de paletas de cores do Marcel eu também já falei no meu outro post sobre o trabalho dele. Em Carniça, a transição noite/dia é o gancho pra ele trabalhar esse contraste. E o resultado é bonito de ver. E tem outros bons momentos com situações aparentemente simples. Vou te falar, o cara fazer requadro com as pernas do personagem mijando na privada é de tirar o chapéu, sem exagero.

Enfim, vou ser repetitivo aqui. Fico feliz demais de ver quando artistas contam história boa de qualquer gênero num contexto brasileiro. E é fato que a turma do horror domina isso bem demais. O horror que está presente na miséria e na embriaguez é mais real, e tem uma carga dramática que o susto fácil e o gore nunca vão proporcionar. Ah, compra Carniça lá na Ugra, ou com os caras direto no Facebook. E leia mais de uma vez, muitas vezes. Vale demais.


Semana que vem nos reencontramos. Até!


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